Vivemos tempos conturbados e incertos que necessariamente mudam e mudarão o mundo. A miséria que a miserável guerra traz assim o obriga, mas há algo que sabemos há muito, muito tempo e que não muda: o exército mais importante do mundo é o das abelhas, senhoras polinizadoras cuja ação nos dão alimentos, plantas, cheiros e cores. Enfim, o mundo como ainda o conhecemos.
A nossa melhor amiga é definitivamente a Apis mellifera, uma das muitas espécies de abelhas, que magica enormes quantidades do doce mel que nos delicia e que, ao colher pólen e néctar das flores mais perfumadas e de cores vibrantes, poliniza mais de um terço das plantas do planeta. Não é coisa pouca, certo? O desaparecimento das abelhas que atuam desta forma, ou mesmo o seu declínio populacional, poderá dar origem a uma catástrofe alimentar.
É por isso que temos de olhar por elas, pelas raparigas trabalhadoras de pijama amarelo e preto que tanto trabalham por nós. Afinal, o universo e o Homem já conspiram o suficiente contra elas, sobretudo através das alterações climáticas, intensificação agrícola (monocultura), má utilização de inseticidas e herbicidas, redução da vegetação espontânea e parasitas da própria abelha, para não falar na tragédia que significa a presença da vespa asiática.
Não teríamos dedos para contar o sem fim de alimentos que resultam da ação das abelhas, mas não resistimos em referir alguns. Amêndoa, morango, maçã, manga, tomate, kiwi, melancia são alguns exemplos saborosos. Já imaginou viver sem isto? Mas podemos continuar: tangerina, toranja, alho, limão, soja, café, laranja, abóbora, frutos silvestres, pepino, cebola, pêra, abacate, melão, cereja e pimenta. E chocolate, senhoras e senhoras, o chocolate.
O que seria uma vida sem estas pequenas maravilhas? Ou, em alguns casos, em quantidades drasticamente reduzidas que levariam a uma subida brutal de preços e à consequente inacessibilidade ou, naturalmente, ao seu desaparecimento.
Mas há muitos mais alimentos, claro, e outros que daí resultam, como sumos, batidos ou bolos, o que a criatividade permitir. Uma coisa é certa: as abelhas melhoram a nossa vida, nomeadamente a amplitude da nossa dieta, oferecendo-nos riquíssimos alimentos em nutrientes, e ainda nos dispensam mel e exemplos e lições de como viver e trabalhar em comunidade. Afinam o sabor dos alimentos, contribuem para uma alimentação mais segura e saudável. São um dos maiores agentes da biodiversidade do nosso planeta. São únicas.
A economia, o dinheiro gerado pelas abelhas, comprova a importância delas. Segundo este artigo da “Forbes”, de 2019, há entre 250 e 300 mil espécies polinizadoras, que, só nos Estados Unidos, traduziu-se num lucro entre 210 e 515 mil milhões de euros. A abelha que referimos em cima, a Apis mellifera, é a mais valiosa de todas elas no que toca à economia da agricultura, representando uma fatia de 20 mil milhões de euros daquele bolo. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, uma colónia dessas abelhas vale 100 vezes mais para a comunidade do que para o apicultor.
Dinheiro e quantificações à parte, não nos surpreende que a abelha seja o polinizador mais valioso do mundo, não é? Cuidemos delas. Para a Quinta das Tílias, são todas rainhas.