Quando as abelhas sobrevoam à nossa volta há um sentimento e, em muitos casos, uma banda sonora que se insurge: o assobio. Dizem que as afasta, certo?
Temos medo de ser picados, quando, ironicamente, essa imprudência lhes roubaria a vida. Há um respeito irreflectido por aquele insecto que se veste de amarelo e preto todos os dias para ir para o trabalho. Mas e se estamos a ser injustos? E se não olhamos para as abelhas como deveríamos, como heróis improváveis e silenciosos que estão a desaparecer? E se devíamos cuidar delas para o nosso bem?
Noah Wilson-Rich, um homem que fez um doutoramento a estudar a saúde das abelhas, quer que olhemos para elas com outros olhos, mais melosos quem sabe. Afinal, diz, “dependemos das abelhas para a polinização e, mais recentemente, como um bem económico”. E há algo que intriga este norte-americano: “Estão a desaparecer, nem se vêem abelhas mortas no chão. É bizarro. Desapareceram.” Esta e outras ideias moram na TED Talk em baixo, que aconteceu em 2012, em Boston, nos Estados Unidos.
Noah fazia então uma relação directa entre o aumento dos preços de 130 vegetais e frutos e o desaparecimento das abelhas. Ou seja, se há menos abelhas, há menos polinização, o que vai levar obrigatoriamente a problemas nas culturas. “Pensem nos benefícios das abelhas e porque são uma coisa maravilhosa”, desafiava a audiência, lembrando que são as abelhas que dão alma a muitos alimentos que conhecemos. De acordo com os números da empresa que Noah Wilson-Rich fundou, a Best Bees Company, as abelhas têm diferentes sortes no inverno dependendo se estavam na cidade (62% sobreviviam) e no campo (40%).
O desaparecimento das colónias e colmeias, muitas delas por responsabilidade do parasita varroa, é um “grande desafio dos nossos tempos”, explica este biólogo que se aventura na recolha de dados sobre a saúde das abelhas, vacinando-as até, reforçando-lhes o sistema imunitário. A sua empresa ajuda clientes a entenderem a importância de abrirem os seus telhados e terraços para as abelhas. De acordo com os dados da apresentação, os problemas começaram em 1968, quando a varroa estava praticamente em toda a Ásia, castigando severamente o trabalho das abelhas; em 1971 já se espalhara pela Europa e América do Sul; no anos 80, especialmente em 1987, chegou finalmente aos Estados Unidos. “Muitos de nós lembra-se de, em criança, sermos picados por uma abelha. Víamos abelhas nas flores… Pensem nos miúdos de hoje: a infância é diferente, já não experienciam isso. As abelhas já não andam por aí. “Precisamos das abelhas e elas estão a desaparecer, é um problema. Temos de as levar aos locais onde elas prosperam”, reforça.
Noah deixou ainda um apontamento curioso sobre uma realidade pouco debatida: as colmeias urbanas. “Paris tem sido um modelo fantástico para a apicultura urbana, puseram até colmeias no telhado do edifício da Ópera. Em Londres estão muito avançados no uso dos telhados verdes e colmeias integradas.” Em sentido contrário destacou Nova Iorque, onde a apicultura era ilegal até 2010. “Como íamos polinizar todos os jardins locais? Com as mãos?”
Sobre as picadas, a desculpa para arrancar este texto, Noah descansa-nos: “Se não forem uma flor, as abelhas não vos ligam nenhuma”.