Talvez nunca tenha ouvido falar em Jean-Georges Noverre, mas este francês, nascido na belíssima Paris, é a explicação para o Dia Mundial da Dança ser celebrado a 29 de abril, o dia do seu nascimento, no longínquo ano de 1727. Jean-Georges Noverre, bailarino e professor, escreveu uma série de cartas sobre o ballet da sua época.
Inspirados na arte de Noverre, desta vez vamos falar sobre a arte e a magia útil que existe na dança das abelhas. A comunicação é, como na nossa vida, decisiva. Desta maneira, encontrado o seu dialeto, as abelhas podem assim desempenhar as suas tarefas de forma coordenada, habitando e dando vida a uma colónia que funciona como uma orquestra. Veja aqui um exemplo desta comunicação.
Para começar, as abelhas recorrem a esta arte para identificar os recursos existentes fora da colmeia. Isto é, comunicam entre si a localização de fontes de néctar e outros alimentos e recursos. As operárias, as protagonistas desta história, dançam dentro dos ninhos ou nos exames e assim, numa ação que mais parece um milagre, conseguem indicar exatamente a distância, a direção e a qualidade dos tais recursos identificados. Magia, não?
O manual da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal é precioso e permite compreender melhor este fenómeno. Por exemplo, as abelhas, que utilizam como principal mecanismo de orientação a posição do sol, adotam dois tipos de dança para fazer girar o mundo delas: a dança circular e a dança em oito.
Vamos por partes: o que é a dança circular?
Este bailarico comunica a existência de um recurso perto da colmeia, nomeadamente a menos de 15 metros. “A abelha que encontra o alimento regressa ao ninho e começa por trocar néctar com as outras obreiras e depois faz a dança, seguida de perto por estas, que a tocam com as antenas. A dança consiste em pequenos círculos que mudam de direção a cada uma ou duas revoluções. Esta dança pode durar entre alguns segundos e poucos minutos, terminando com mais uma troca de néctar entre a dançarina e as assistentes”, pode ler-se no documento da FNAP. Se isto não é uma das maravilhas do mundo… Veja mais aqui.
Segue-se a dança em oito e esta é mais complexa
Esta dá as coordenadas sobre direção, distância e qualidade do alimento. “Consiste numa curta corrida para a frente, durante a qual a abelha abana o corpo lateralmente num ritmo de 13 a 15 vezes por segundo, emitindo uma vibração audível. No fim desta corrida, a abelha volta para trás desenhando um semicírculo até ao ponto de partida. Volta novamente a fazer a curta corrida e, desta vez, ao chegar ao fim, dá a volta em sentido contrário”. Depois de tudo isto, acontece o mesmo que na dança anterior, a abelha dançarina distribui alimento pelas assistentes.
A distância a que está o alimento ou recurso identificado é transmitido às outras operárias através do comprimento da corrida, da duração das vibrações e do número de circuitos desenvolvidos em cada dança. Parece ficção científica mas não é, queridos leitores e clientes da Quinta das Tílias, elas são mesmo únicas, divinas e geniais. Maior distância, maior corrida, mais vibrações e menos circuitos.
“A qualidade do alimento é também indicada pelo abanar lateral, pelo número de ciclos de cada dança e pela intensidade das vibrações, que são tanto maiores, quanto melhor é a fonte de alimento”, explica ainda o manual da FNAP. E no que toca à direção que o voo deve tomar, “é dada pela direção da corrida, que traduz o ângulo solar”. Isto é, “se a fonte de néctar está na mesma direção em que se encontra o sol, a corrida é feita de baixo para cima. Se a fonte está a +40º em relação ao sol, a corrida é feita no favo numa direção +40º em relação ao eixo vertical”.