O funcionamento da colónia, as funções de cada abelha, os desafios diários e os mecanismos de proteção têm gerado tanto interesse por parte dos nossos amigos, seguidores e clientes da Quinta das Tílias que vamos continuar neste tema. Ao longo das próximas linhas e parágrafos vamos explicar com maior detalhe o papel da rainha, uma das três castas de abelhas.
Cada colónia tem entre 10 mil e 40 mil abelhas adultas, como vimos anteriormente, sendo que normalmente existe apenas uma rainha entre elas. É a única fêmea sexualmente madura, somente ela é capaz de pôr ovos. São as abelhas que atingem a maior dimensão e as que vivem mais tempo, alimentadas com geleia real, são eternas para as outras que existem também para as servir. A duração da vida da rainha está entre os dois e os quatro anos, havendo poucos casos em que vivem até aos oito. Quando chega o pico de produção, a rainha chega a pôr 2000 ovos por dia.
“As rainhas nascem a partir de um ovo normal, mas que é colocado num alvéolo diferente (alvéolo real), sendo que a larva que nasce desse ovo é alimentada em maior quantidade e qualidade, o que provoca um crescimento maior e uma diferente metamorfose da larva”, explica um documento Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP).
Há uma relação tensa entre a rainha e as restantes abelhas, e não é só de natureza física, é também química: as rainhas produzem um conjunto de feromonas que pairam sobre a colmeia, influenciando o comportamento das outras abelhas, inibindo-as até de pôr ovos. E, acalmando a colmeia, organizam-na.
Como funciona então o processo reprodutivo destas rainhas?
Ora, quando põem um ovo sem libertar esperma da sua espermateca, trata-se de um ovo não fertilizado que dará origem a um macho (zângão). Quando esse ovo é fertilizado dá lugar a fêmeas, que tanto podem ser obreiras como rainhas, sendo a diferença entre uma e outra a quantidade e qualidade de alimento fornecido às larvas. As larvas das rainhas, lá está, são alimentadas com geleia real, enquanto as outras recebem alimentos das glândulas mandibulares das obreiras.
As abelhas rainhas são mimadas – não é uma surpresa, certo? É uma das funções das abelhas-ama, que normalmente formam um círculo de seis a 10 elementos à volta dela, andando aos círculos, tocando-lhe com as suas antenas, lambendo-a e alimentando-a diretamente. Este tipo de visitas tarda qualquer coisa como um minuto, pode ler-se ainda no documento da FNAP que funciona como um manual de instruções deste reino fascinante.
O sistema natural de reprodução das abelhas é a enxameação. A tal imagem que nos atormenta, assusta e que nos impressiona pelo som, é afinal mais um mecanismo maravilhoso das nossas amigas. Isto acontece quando a rainha velha se aventura na busca de uma nova casa. As abelhas que não a acompanham – 60% a 70% – ficam com as rainhas novas que foram desenvolvidas a partir dos alvéolos reais, explica este artigo do jornal “Mirante”. Mais uma vez, o guia da FNAP é precioso para compreender este processo: “Quando um enxame sai de uma colmeia, o ar enche-se com o zumbido de milhares de abelhas que voam à procura da sua rainha e de um local para se agruparem. Quase de repente, o caos desaparece, e as obreiras organizam-se, agrupando-se num cacho, no lugar onde a rainha poisou. Dá-se então início à procura do novo local para o ninho”.
Assim, as rainhas têm a vantagem de receber uma ajuda na construção do novo ninho e na criação da sua espécie. Mesmo após o abandono da colmeia por parte daquele enxame, a mesma colmeia continua a criar novas rainhas. Até pode acontecer a primeira rainha a nascer abandonar a colmeia com outro enxame. O processo repete-se ou pode repetir-se. No caso de coabitarem duas rainhas ao mesmo tempo, a tolerância uma com a outra só resiste algum tempo, depois lutam pelo trono. A enxameação, que se inicia na criação das abelhas até à decisão da nova rainha, demora cerca de quatro semanas.
Há outra forma de substituir as rainhas?
Sim. Colocando a enxameação de lado, há uma outra forma de as rainhas perderem o posto mais importante da hierarquia. Os especialistas suspeitam que terá que ver com a diminuição das feromonas libertadas pelas rainhas, que pode acontecer por estarem feridas ou por produzirem apenas ovos não fertilizados. Isto acontece normalmente em rainhas mais velhas, mas também pode ocorrer em rainhas novas que não foram fecundadas de forma eficiente.
Finalmente, falta saber que o acasalamento entre rainhas e zângãos ocorre durante o voo.
E acontece em lugares já definidos para o propósito: normalmente têm pelo menos um hectare de terreno aberto, tendem a situar-se em zonas baixas e protegidas do vento. “Quando uma rainha entra numa área de congregação de zângãos, estes rapidamente se orientam na sua direção através de sinais visuais e químicos. Perseguem-na numa formação que lembra um enxame, que se vai desfazendo e voltando a formar enquanto dura a perseguição”, conta ainda o boletim da FNAP.
Falta consumar o ato, como acontece afinal? “Cada zângão aproxima-se da rainha voando primeiro por trás e ligeiramente abaixo e, depois, subindo e posicionando-se com o tórax por cima do abdómen da rainha, enquanto a tentam agarrar com as patas. Numa fração de segundo, seguram então a rainha com as seis patas e introduzem o endófalo (órgão genital), na câmara do ferrão da rainha”. É a ejaculação, que por vezes é audível, a separar o zângão e a rainha. O processo de acasalamento é fatal para os zângãos. A rainha pode acasalar com até 20 deles num voo de acasalamento.
Resumindo, a função da rainha é pôr ovos, sendo que tem outra, a tal via químicos, que acalma a colónia e a mantém organizada. Se não houver rainha não há ordem, mas quem coordena e manda na colmeia são as abelhas mais velhas. Normalmente são essas, com mais experiência, que tomam as decisões. É uma sociedade fascinante que valoriza e ouve os mais velhos. Fica a preciosa lição…