A apicultura urbana vai sendo cada vez menos rara na Europa e nos Estados Unidos. Em Portugal vão-se conhecendo poucos casos, mas existem, como a história dos 12 apicultores que cuidam de abelhas em Monsanto, em Lisboa, contada há pouco tempo pelo “Público” (ver aqui).
Façamos uma pequena viagem então por alguns lugares onde as abelhas e a apicultura urbana se instalaram. Mais à frente explicaremos os benefícios desta realidade e também alguns dos seus constrangimentos.
Em Paris, por exemplo, é tudo menos uma novidade. Esta bonita história das abelhas habitarem telhados de importantes edifícios parisienses começou na longínqua década de 80. “Foi em 1982 que a Ópera de Paris tomou a decisão de albergar colmeias no topo do seu histórico edifício, no coração da cidade, com esse propósito, e as coisas correram tão bem que a ideia pegou”, conta este artigo do “Diário de Notícias”. Do Louvre passando pelo Palácio da Bolsa, do Quai d’Orsay ao Hotel Savoy, as abelhas já sabem levar a verdadeira vida parisiense. E sentem-se bem.
De acordo com os censos de 2017, a capital francesa contava então com pelo menos 700 colónias de abelhas melíferas nos seus telhados. Berlim, Copenhaga e Bruxelas seguiram o exemplo da Cidade Luz. As cidades ganham assim outro ponto de interesse, outra cor, outro sabor e aroma. E produtos requintados, claro.
Existem alguns estudos publicados que referem que este mel urbano, que não sai prejudicado pela poluição das nossas cidades, seja no ar ou nas águas, é uma verdadeira alternativa ao mel rural, um contexto no qual as abelhas saem cada vez mais castigadas, com predadores vários, como o ácaro varroa, pesticidas, herbicidas e o fungo Nosema ceranae. Não é segredo nenhum que a existência das abelhas está em declínio.
Há também o outro lado da moeda: demasiadas colmeias e comunidades de abelhas podem levar à falta alimento ou a abordagens mais arrojadas daquelas meninas, como beber água de vasos em cima de mesas de restaurantes, o que já levou à decisão de expulsão dessas colmeias de telhados de determinados edifícios.
Outro facto curioso é as abelhas urbanas produzirem mais do que as abelhas do campo.
Esta suspeita (ler aqui) deve-se à alimentação das abelhas urbanas, que se baseia sobretudo de alimento em vasos de flores nas janelas, folhagem em terraços de apartamentos e ainda na flora em parques pertinho da colmeia. Isto significa também que evitam magistralmente os pesticidas tão famosos no lado mais rural da vida. Há ainda outra possibilidade ou aliada: a temperatura na cidade tende a ser ligeiramente mais alta do que nas zonas rurais.
Saltando para o Reino Unido, reforçando a ideia da apicultura urbana como um caminho, a revista “Time Out” fez até um roteiro para saber onde estão instaladas as colmeias em Londres (ver aqui). Por exemplo, no Hotel St. Ermin há qualquer coisa como 350 mil abelhas no terraço. No Natural History Museum Wildlife Garden há mais de 3000 espécies. E, finalmente, o Parque Kennington é um oásis para as abelhas, no sul de Londres, com plantas de fruto, outras ricas em néctar, ervas e flores.
Para terminar esta viagem pela apicultura urbana, voamos até Hong Kong. Kenneth Tse reformou-se há pouco mais de cinco anos e decidiu seguir as pisadas do avô, que era apicultor. Agora, Tse cuida de 200 colmeias no coração de Hong Kong.
Mesmo com os constrangimentos da falta de espaço e das poucas condições para a apicultura urbana, Tse diz vender mel o suficiente para a sua quinta ser sustentável. Mas, no fundo, este homem quer mais do que produzir mel ou ganhar dinheiro, deseja falar às pessoas da importância das abelhas para o nosso ecossistema.
“Espero que as pessoas de Hong Kong entrem na apicultura, compreendam as abelhas e entendam o mel”, apelou Tse.
Tse é um dos nossos, não é? Nesta caminhada com a Quinta das Tílias queremos pessoas como Tse e como os nossos leitores e clientes, que apreciam aprender sobre as nossas queridas abelhas, protegendo-as e admirando o trabalho delas.