Aqui na Quinta das Tílias queremos que conheçam o mundo das abelhas como nunca. Noutros textos já falámos desta organização complexa e fascinante que acontece todos os dias nas colónias das nossas amigas abelhas e também do papel e estatuto das obreiras e rainhas. Falta falar-vos sobre os zângãos, os machos que estão à mercê da rainha para o acasalamento e assim manter por cá esta espécie que poliniza a maioria dos alimentos que temos à disposição. Depois da cópula, morrem.
Estes zângãos, que no início de vida são alimentados pelas obreiras, podem ser vários milhares numa colónia forte em plena primavera ou poucos durante a estação seca ou de frio rigoroso. Estes nossos amigos podem chegar a ter o dobro do tamanho das abelhas obreiras, pode ler-se no guia da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal. Ah, e não participam em qualquer atividade na colmeia… com a exceção de fecundarem as rainhas quando estas realizam os voos de acasalamento, que duram em média 30 minutos. Mas a maioria não chega a ter essa oportunidade. Quando está bom tempo, fazem entre três a cinco voos em cada tarde, regressando ao ninho para intervalos de 15 minutos para consumirem mel e reporem as energias.
“No que toca à reprodução no mundo animal os machos têm normalmente a fama de serem mais promíscuos – acasalam com tantas fêmeas quanto possível para garantirem que um maior número de crias herda o material genético”, reflete a jornalista Vera Novais neste artigo do “Observador” que conta com uma cambalhota no guião. “As fêmeas, por outro lado, dedicam mais tempo a escolher o macho com as melhores características, mas ficam-se normalmente por uma única escolha. Contudo, toda a regra tem exceção: as abelhas podem acasalar com mais de 20 parceiros diferentes.”
E continua: “Durante os voos nupciais as futuras abelhas rainhas acasalam com o maior número de machos possível. Os machos morrem após a cópula, enquanto as fêmeas acumulam o sémen e começam a construir a colmeia. O esperma armazenado vai fertilizar todos os ovos que colocar ao longo da vida. As obreiras que nascerem desses ovos serão tanto mais produtivas quanto mais parceiros a abelha rainha tenha tido durante o voo nupcial”. Esta estratégia das rainhas “aumenta a variabilidade genética das filhas e, consequentemente, melhora a resistência a doenças”.
Falta entender como rola o ato em si, como acontece afinal?
“Cada zângão aproxima-se da rainha voando primeiro por trás e ligeiramente abaixo e, depois, subindo e posicionando-se com o tórax por cima do abdómen da rainha, enquanto a tentam agarrar com as patas. Numa fração de segundo, seguram então a rainha com as seis patas e introduzem o endófalo (órgão genital), na câmara do ferrão da rainha”, pode ler-se no guia da FNAP. É a ejaculação, que por vezes é audível, a separar o zângão e a rainha.
E como surgem os zângões? “Quando uma rainha põe um ovo sem libertar esperma da sua espermateca, está a pôr um ovo não fertilizado. Este ovo dá sempre origem a um macho (um zângão). Quando o ovo é fertilizado dá origem a fêmeas, que podem ser rainhas ou obreiras.” Uma colónia forte pode criar anualmente até 45 mil machos.
Os zângões vivem 20 a 30 dias durante a primavera e até 90 dias durante o verão e outono. No inverno têm mais problemas, pois são expulsos da colónia pelas abelhas obreiras, que como já vimos fazem tudo acontecer, por isso poucos zângões sobrevivem a esta época fria.