São castas na verdade, é assim que se diz. Há três diferentes castas nas colónias das abelhas: rainhas, obreiras e zângãos. Mas já lá vamos, puxemos a fita atrás primeiro para contextualizar. Acredita-se que as abelhas tiveram origem há cerca de 100 milhões de anos, quando surgiram as plantas com flor verdadeira, e surgiram com semelhanças à vespa. Esta versão antiga das nossas amigas, numa certa altura, deixou de caçar insetos e aranhas e passou a recolher pólen, passando esta a ser a sua maior fonte de proteína.
De acordo com o Boletim Prático da Biologia da Abelha da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, existem hoje em dia pelo menos 10 famílias de abelhas que englobam 20 mil espécies. Entre essas espécies está, pois claro, a abelha comum, a Apis mellifera, que se traduz como “abelha que traz mel”. As atuais abelhas produtoras de mel pertencem todas ao género Apis e contam com sete espécies diferentes, tudo com nomes muito difíceis de pronunciar. Mas é importante reter que este grupo, as do género Apis, é predominantemente tropical e que terá sido descoberto pela primeira vez na Ásia, na região Indo-Malaia, há qualquer coisa como 30 milhões de anos. Já a Apis mellifera, a nossa tal amiga que traz o mel, terá tido origem há dois ou cinco milhões de anos, no Sudeste Asiático. Depois, com a alma de viajante, expandiu-se para África, Europa e Noroeste da Ásia.
Agora sim, depois de uma mini aula de História, voltamos às castas. São três, ainda se lembra? Comecemos pelos zângãos, os machos que tanto podem ser milhares numa colónia durante a primavera como somente alguns durante a estação seca ou fria. Estes zângãos, que não participam em qualquer trabalho na colmeia, podem ser o dobro do tamanho das abelhas obreiras. Bom, na verdade, têm uma atividade importante: fecundam as rainhas quando estas realizam os voos de acasalamento. A vida dos zângãos é curta: ora vivem 20 a 30 dias durante a primavera, ora aguentam até 90 dias no verão e outubro. O problema é o inverno: os zângãos são expulsos da colónia pelas obreiras e, por isso, sobreviver torna-se quase uma missão impossível.
Agora, as obreiras. Apesar de serem fêmeas são normalmente incapazes de pôr ovos. Existem em grande, grande número. São a casta mais abundante. E são elas, tal como o nome indica, que têm quase todo o trabalho na colónia. Constroem os favos e cuidam da criação, defendem o território, procuram e armazenam os alimentos. São como os soldados de um país. O tempo de vida destas nossas amigas obreiras varia muito e depende da atividade da colónia, explica a FNAP. Podem durar entre 15 a 40 dias quando a colónia está no pico da produção primaveril, ou até vários meses no inverno, quando a labuta e o trabalho fora de casa é praticamente inexistente.
Falta uma casta: as rainhas. Já falámos nelas por causa da geleia real [AQUI]: é a figura divina da colmeia, a mais importante, a mãe de todas as outras, a principal, a que é tratada de maneira diferente. Um exemplo é a sua dieta, que lhe garante um estatuto imortal perante as demais. E a receita é simples: a geleia real, cremosa e nutritiva, é o único alimento consumido pela rainha da colmeia. Existe normalmente uma rainha por colónia. É a única fêmea sexualmente madura, é a única abelha capaz de pôr ovos. São as abelhas que atingem a maior dimensão e as que vivem mais tempo, são eternas para as outras que existem também para as servir. A duração da vida da rainha está entre os dois e quatro anos, havendo poucos casos em que vivem até aos oito anos. Quando chega o pico de produção, a rainha chega a pôr 2000 ovos por dia. “As rainhas nascem a partir de um ovo normal, mas que é colocado num alvéolo diferente (alvéolo real), sendo a larva que nasce desse ovo é alimentada em maior quantidade e qualidade, o que provoca um crescimento maior e uma diferente metamorfose da larva”, explica o documento da FNAP.
A rainha e a sua atuação são mais complexas do que podemos imaginar. Ela demonstra uma interação silenciosa e interessante com as outras abelhas que extravasa o que é físico, falamos também de uma influência química. A rainha produz um conjunto de feromonas que navegam pela colmeia afinando o comportamento de quem a rodeia e, mais importante, que inibem a capacidade de as obreiras estarem aptas a pôr ovos.
Uma colónia conta com 10 mil a 40 mil abelhas adultas. É uma sociedade complexa e fascinante, não é?